Madeira e Porto Santo--Da etnografia local não se pode abstrair a alimentação .É uma tradição concreta profundamente enraizada na população das Ilhas ,que lhe dá caráter e serve de fonte à história da sua vida. Menosprezar este pormenor histórico seria esquecer as qualidades prestimosas das mulheres que em todos os tempos, foi o que escreveu dela, há quase quatrocentos anos escreveu em seu livro Saudades da Terra a propósito das festas e bodas de D. Isabel de Abreu e António Gonçalves da Câmara ,da Madeira em que «se gastaram ricos e esquisitos manjares de toda a sorte, como os sabem fazer as delicadas mulheres das duas ilhas Madeira e Porto Santo , que...são extremadas na perfeição deles , e em todas as invenções de ricas coisas também em açúcar ... com delicadas frutas» .
Gaspar Frutuoso Gaspar Frutuoso (Ponta Delgada, c. 1522 — Ribeira Grande, c. 24 de agosto de 1591), foi um historiador, sacerdote e humanista açoriano. Bacharel em Artes e Teologia pela Universidade de Salamanca e doutor.
Os pratos locais variam das populações urbanas para as rurais . As urbanas tem como principal alimentação gêneros de mercearia ; as rurais , produtos das suas hortas , segundo as regiões que habitam .A papa de farinha de milho ,a mais conhecida pela denominação genérica de milho , era o prato de resistência quase diário , das populações ribeirinhas .Preparam -na assim : aquecidos , por exemplo cinco litros de água para um quilo de milho moído , depois de temperada aquela com sal a gosto e de derretida uma colher de banha , adicionam-lhe , sobre o lume ,a primeira metade da farinha a cozinhar , peneirada , mexendo constantemente esta mistura com uma colher de pau , durante meia hora, até ferver e engrossar . Juntam-lhe depois a restante farinha que coze durante outra meia hora , é mexida de vez em quando para a papa não encaroçar.
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Este alimento é servido quente ou frio , já endurecido seu conduto pode ser acompanhado ao gosto de cada um com peixe frito , com caldeirada, bifes de atum , e até leite que era o que eu mais gostava, com manteiga e açúcar : Na Madeira os que eram mais pobres comiam também acompanhado com cebola crua ou com vinagre o que deve de ser bom pois nunca assim comi , servido da própria panela ou duma taça avantajada que chega-se para toda a família ou dividido em pratos Esta papa depois de dura é cortada aos cubos e passada pela frigideira em azeite ou óleo delgadas agradando a todos os paladares No Porto Santo para a papa de milho endurecer e poder ser passada à frigideira é preciso cozinhá-la em três partes por causa da qualidade da água empregada na Madeira , o que se atribui às propriedades calcárias da água da Ilha.
Esta papa depois de frita fica numa delicia Milho Frito.
Na freguesia do Faial hoje não sei se será Cidade o milho entrava na alimentação preparado de diferentes maneiras: descascado em cinza ---milho escaldado----e depois muito bem lavado era cozido com batata semilha), nacos de carne de porco salgada e hortaliça ; triturado em moinho manual e separado o farelo da farinha era cozido como arroz . Para que o milho , preparado por este segundo assim o deixam por espaço de quinze minutos , aproximadamente ,antes de ser passado entre mós trituradoras para separar a pele da farinha .Cozinhado por este último processo , mistura-se-lhe a salsa picada e carne de porco aos naquinhos . Era outra maneira vulgar de comer milho é em espiga , maçaroca , enquanto tenra , cozida em água e sal ou assada nas brasas. muito vulgar de comer onde no meio se ia colocando o milho ,e com essa maçaneta se andava com a parte de cima e ai moia o milho . Mas havia umas mais pobres de pedra preta e sem maçaneta . Como as pessoas não podiam comprar o milho que era mais caro moído ,então era em casa que se moía.
e separado o farelo da farinha , cozido como arroz. Para que o milho preparado por este segundo processo , fique mais grosso ---estraçoado ---alentecem-no com água fria e assim o deixavam por espaço de 15 minutos, aproximadamente antes de ser passado entre as mãos trituradoras para separar a pele da farinha . Cozinhado por este último ´processo mistura-se- salsa picada e carne de porco aos bocadinhos .Outra maneira muito vulgar de comer milho era em espiga maçaroca ,enquanto tenra cozida em água e sal ou assada nas brasas tudo comidas muito saborosas que não sei se ainda se faz. Este alimento popular faz parte da alimentação da Beira Alta, sendo como tantos outros costumes profanos e religiosos, como superstições , crenças e lendas mais uma prova flagrante das afinidades etnográficas do povo de Porto Santo e Madeira com o das províncias do centro e do norte de Portugal , e do seu predomínio na civilização insular.
AlCAINS ( CASTELO BRANCO)
A papa de milho tem sua história e enraíza numa súplica votiva dos habitantes de Alcains contra uma praga de gafanhotos que , em tempos idos, assolou aquela povoação . Diziam liberta de tão terrível mal por intercessão de seus patronos , Nossa Senhora da Conceição e o Apóstolo S. Pedro .
Nossa Senhora da Conceição
O Apóstolo S. Pedro
prometeram os seus habitantes festejá-los todos os anos em dois dias : no domingo para honrá-los e , na segunda -feira para distribuir papas de milho pelos pobres de Alcains e circunvizinhanças ,por oferta votivamente recolhida ou esmolada dos lavradores . Em 1640 ,igual voto fez Alcains contra a praga dos Castelhanos; e para isenção de mais pragas ainda hoje se cozem , « em plena rua nesta altura á porta dos festeiros , dezenas de caldeiradas de papas de milho » revivescência da Festa das Papas , com cerimônia solene na Igreja e peditório do cereal a todos os lavradores. As populações rurais , dentre os produtos das suas hortas , alimentavam de suas batata doce e semilha que é batata cozidas só com água e sal acompanhadas dum conduto de peixe ou outra coisa . A batata entre os pobres e serranos , costumava ser servida em comum dentro de um cesto circular de vimes , ou de uma malga de madeira , e descascada à unha como ainda hoje se faz. Era refeição ao costume oriental , à volta dum só prato ou taça como em Marrocos Taça essa enorme , como o Truboleon dos Gregos , onde todos metiam a mão e se ajudam dos dedos ou do ´pão para comerem
Os Povos do Porto Moniz.
Os povos do Porto Moniz e do Seixal cozinhavam a batata (semilha) cozinhavam duma maneira privativa que a tornava singularmente saborosa: cobriam primeiro o fundo da panela com uma camada de sal e sobre este sal colocavam a batata ( semilha)
por descascar , alternando assim as camadas até perfazerem a quantidade de batata desejada .A salmoura obtida ficava de reserva dentro da panela para voltar ao lume ,no dia seguinte com novo cozimento de batata e com quantos mais se fizeram de futuro, servindo-se de cada vez igualmente de sal e batata na quantidade e ordem referidas .A batata cozida por este processo ---semilha tostada ----saia da panela emurchecida e esbranquiçada de sal sendo praxe apresentá-la na mesa por descascar. Em substituição da batata , serviam -se por vezes as populações das Achadas da Cruz e do Porto Moniz dum tubérculo indígena chamado norça ou (Tamus ) Era uma planta trepadeira outrora muito cultivada na primeira daquelas freguesias , é hoje em ambas de vegetação espontânea em bardos silvestres , aparecendo dentro das referidas povoações , como no Pico Alto , ( Porto Moniz).
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