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quarta-feira, 26 de abril de 2017

Casa das Águas do Porto Santo degrada-se sem destino certo


O edifício da antiga Casa das Águas, no centro do Porto Santo, está à beira de completar cem anos, mas continua devoluto e sem solução para breve. O emblemático espaço, único na arquitetura industrial da ilha, está fechado há vários anos, desde que a empresa proprietária “Águas do Porto Santo, Lda.” encerrou portas, deixando para trás décadas de história e de atividade fabril ligadas à água mineral, produto que ganhou reconhecimento terapêutico e prémios internacionais.

Propriedade de famílias conhecidas da Região, o espaço datado dos anos 20 do século passado, começa a revelar sinais de degradação e de abandono. Janelas partidas e lixo amontoado emprestam uma imagem triste a um dos locais mais prósperos na vida social e económica da ilha, no passado.

A população não se conforma com a situação de esquecimento e abandono a que o arrojado prédio da zona da Fontinha está votado, defendendo uma intervenção rápida com vista à requalificação do espaço, de forma a se preservar a memória e património locais.

Em 2009, chegou a ser aprovado pela autarquia um estudo prévio de revitalização da área onde se encontra o edifício, tendo em vista a construção de uma unidade de turismo termal. Na altura, o então projeto “Termas da Fontinha”, orçado em 20 milhões de euros, avançava com a ideia de construção de um spa, 64 moradias tipo T2 e mais 50 mil metros quadrados de zonas verdes de passeio, lazer e de agricultura biológica.

Entretanto, os anos passaram, a autarquia mudou de gestão e o arrojado projeto de rentabilização das potencialidades turísticas aliadas aos recursos naturais da ilha ficou apenas no plano do papel.

O FN tentou saber qual o ponto da situação, mas até ao momento não recebeu qualquer informação da parte da autarquia de Porto Santo, em matéria de classificação patrimonial. Também Pedro Araújo, o arquiteto responsável pelo projeto das termas, foi parco na atualização da informação. Ligado por laços familiares à empresa e ao edifício quase centenário, o arquiteto apenas adiantou que o projeto definitivo está em fase de conclusão, processo que tem sido atrasado pelo facto de “a família ser muito grande o que dificulta a procura de entendimentos”.

A Casa das Águas está em vias de classificação como “Imóvel de interesse municipal”. Aponta-se para 1922 o ano da sua construção. Não há muitas referências bibliográficas quanto aos pormenores da construção. No “Inventário do património imóvel do Porto Santo”, edição da autarquia local, alude-se ao aspeto “simétrico de dois pisos construído em pedra aparente com a face saliente e irregular, tão em voga naquela altura”, salientando-se ainda no corpo central “os três arcos de volta perfeita engradados sobrepujados por marquise de tapa-sóis entre duas pequenas torres com janelas de verga curva”.

A Fábrica das Águas, como também era conhecida, encerrou portas há anos, após um conturbado e longo processo judicial que opôs a empresa ao Governo Regional. As autoridades de então ordenaram o encerramento da unidade por alegados problemas relacionados com a qualidade da água ali engarrafada, mas tal nunca foi confirmado, conforme atestariam as sucessivas análises efetuadas. No final, comprovou-se a qualidade superior do produto, mas a exposição negativa e o arrastar da contenda na barra dos tribunais ditou a machadada final naquela que havia sido uma das indústrias de maior sucesso na Ilha Dourada, lançando para o desemprego cerca de 20 funcionários, a maioria com muitos anos de casa.


Quem não se conforma com o desfecho é Jorge Malheiro Araújo, um dos proprietários diretos da empresa. Ainda hoje, o conhecido médico da nossa praça fala com mágoa sobre o processo que levou ao encerramento da fábrica criada pelo seu pai, António Egídio Henriques de Araújo, e pelo sócio Gabriel Tavares. Considera o triste processo resultado de uma perseguição com interesses comerciais e não hesita em responsabilizar o então vice presidente Miguel de Sousa pela destruição de um produto com provas dadas nos mercados regional e nacional, e até nos territórios ultramarinos, como Angola.

O seu sonho era assistir ao renascer da fábrica e reabilitar a credibilidade da “Água do Porto Santo”. Uma forma, diz, de ser feita justiça à memória do seu pai.

Em mais de 70 anos de exploração, a empresa Águas do Porto Santo conta com um currículo irrepreensível, não havendo registo de qualquer anomalia. Jorge Araújo garante que a empresa sempre pautou pela máxima responsabilidade no negócio, garantindo a qualidade e segurança da água, quer na captação quer no engarrafamento e comercialização. Sempre sob o controlo técnico de laboratórios e institutos conceituados do continente. Um sentimento de injustiça que guarda ao fim dos seus 82 anos de vida, misturado com as recordações felizes de infância e juventude em que a sua grande família – os pais e os 18 irmãos -, aquando de férias no Porto Santo, ficava alojada no piso superior do edifício. “A água era excelente. Lembro-me que era oferecida a quem fosse lá a casa”. A 7 de Janeiro de 1893 foi efetuada em Paris a primeira análise das águas da Fontinha, as quais, poucos anos depois, iriam dar origem à primeira e única fábrica de água mineral da ilha. Na altura, as análises revelaram serem essas águas bicarbonatadas, cloretadas e sulfatadas sódicas, aconselháveis no tratamento de doenças de pele e do aparelho digestivo.

“Bacteriologicamente pura”. Era este o slogan inscrito nos rótulos das garrafas da água do Porto Santo, um produto que chegou a ganhar prémios, apesar do seu sabor salobro. A “Água Mineral do Porto Santo” venceu em 1918 uma medalha de ouro, na exposição internacional de águas minerais realizadas no Rio de Janeiro.

A água mineral engarrafada e comercializada era captada na fonte das Lombas, atualmente encerrada e, nos primeiros tempos, era exportada para a Madeira nos barcos de carreira Maria Cristina, Arriaga e Portossantense.

A ilha do Porto Santo sempre se debateu com a escassez de água e a história conta como era difícil viver apenas com a garantia de poucas nascentes naturais. As mais conhecidas eram as da Fonte da Areia e das Lombas, locais procurados pela população local e visitantes para se abastecerem.

Há cerca de 20 anos, a central de dessalinização entra em funcionamento e passa a distribuir água tratada vinda do mar à rede pública. A maioria dos pontos de captação é então fechada por falta de garantias quanto à salubridade.

No entanto, há ainda nascentes naturais ativas, como é o caso dos sítios dos Morenos e da Ribeira Funda, onde alguns populares mais idosos continuam a abastecer por acreditarem na qualidade e segurança da água do Porto Santo.

Isto está guardado no meu blog , para alguns verem a maldade de duas ilhas, e como este senhor há muitos mais casos.